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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Porque não voto em Bolsonaro


Nasci e cresci numa sociedade que chamava negro de macaco, que falava que negro quando não cagava na entrada, cagava na saída, índio era preguiçoso, que nordestino era preguiçoso, que ria do gordo, que humilhava e até matava as mulheres, que humilhava e até matava homossexuais, que odiava argentino, que dizia que quem estudava fica louco, que acreditava em lobisomem e mula-sem-cabeça.

Pois bem. Cresci. Estudei muito. Desintoxiquei o máximo que pude dos ódios e dos preconceitos. Ainda os tenho, pois foram 55 anos de veneno e 500 anos de tradição de ódio e preconceito. 4 faculdades, 3 especializações, 2 doutorados parciais, conheci uma grande parte do mundo,  e o mais importante, 34 anos se solidarizando com os derrotados e deserdados da História.

Eis minha razão de não votar em Bolsonaro e fazer campanha contra ele.

Todos nascemos intoxicados e ignorantes . Morrer intoxicado e ignorante, jactando ódios e preconceitos, é uma escolha.

Pedro Aparecido de Souza

03 de setembro de 2018




quarta-feira, 6 de junho de 2018

Ensinaram-me a odiar

Quando nasci, não tinha ódio. Só amor.
Mas a "sociedade" me ensinou a odiar e amar coisas "certas" ao longo da vida.
Assim, logo que cresci ensinaram-me a odiar índios e amar os bandeirantes.
Ensinaram-me a odiar negros e amar os brancos.
Ensinaram-me a odiar pobres e amar os milionários.
Ensinaram-me a odiar quem era diferente da minha religião ou ateu e a amar quem era da minha.
Ensinaram-me a odiar favelado e amar os nobres da região central da cidade.
Ensinaram-me a odiar lutadores e a amar covardes.
Ensinaram-me a odiar quem é viciado em drogas e amar o empresário e dono da droga.
Ensinaram-me a odiar quem defende a vida e amar quem defende o patrimônio.
Ensinaram-me a odiar quem morre torturado e amar os torturadores.
Ensinaram-me a odiar quem critica e amar quem consente.
Ensinaram-me a odiar quem defende que criança não deve trabalhar e amar quem defende crianças trabalhando em carvoaria.
Ensinaram-me a odiar quem não gosta de ricos e amar os ricos.
Ensinaram-me odiar a pirataria e amar as patentes dos bilionários.
Ensinaram-me a odiar rebeldes e a amar ditadores torturadores.
Ensinaram-me a odiar o diferente e a amar o normal.
Ensinaram-me a odiar o sindicalista e a amar o patrão.
Ensinaram-me a odiar o gordo e amar o magrelo.
Ensinaram-me a odiar o homossexual e amar o heterossexual.
Ensinaram-me a odiar o homem escravizado e amar o escravocrata.
Ensinaram-me a odiar a igualdade das mulheres e amar o machismo.
Ensinaram-me a odiar as políticas sociais e amar o financiamento estatal ao bilionário.
Ensinaram-me a odiar o tratamento desigual para desiguais e amar a meritocracia entre bilionários e miseráveis.
Ensinaram-me a odiar quem libertava pássaros e a amar quem matava pássaros
Ensinaram-me a odiar quem lutava contra o veneno na lavoura e amar o veneno na comida.
Ensinaram-me a odiar quem não fumava e amar o tabaco.
Ensinaram-me a odiar quem não dá presentes caros e amar quem dá um anel de diamantes.
Ensinaram-me a odiar a Palestina e amar Israel.
Ensinaram-me a odiar o Iraque e a amar os Estados Unidos.
Ensinaram-me a odiar o marxista e o anarquista e amar os liberais.
Ensinaram-me a odiar o coletivo e amar o individual.
Ensinaram-me a odiar quem não tem e amar quem tem demais.
Ensinaram-me a odiar o ser e amar o ter.
Ensinaram-me a odiar a verdade e amar a mentira.
Ensinaram-me a odiar a solidariedade e amar o egoísmo.
Ensinaram-me a odiar o simples e amar o complicado.
Ensinaram-me a odiar quem pensa diferente e amar quem pensa igual.
Ensinaram-me a odiar quem protege as árvores e amar quem as derrubam.
Ensinaram-me a odiar o devedor e amar os banqueiros.
Ensinaram-me a odiar quem fala "errado" e amar quem fala a gramática dos deuses.
Ensinaram-me a odiar Marx e amar Smith.
Ensinaram-me a odiar qualquer projeto alternativo e amar o capitalismo.
Ensinaram-me a odiar quem não tem terra e amar quem é latifundiário improdutivo.
Ensinaram-me a odiar quem não tem casa e amar quem tem mansão.
Ensinaram-me a odiar mendigo e amar quem os mantém na mendicância.
Ensinaram-me a odiar quem trabalha e produz e amar quem explora.
Ensinaram-me a odiar quem é honesto e amar quem é desonesto.
Ensinaram-me a odiar quem não se vende e amar quem é vendido.
Ensinaram-me a odiar quem ama e amar quem odeia.
Ensinaram-me a odiar...
Mas, lá no fundo, a "sociedade" nunca me ensinou a odiar. Quem me ensinou a odiar foi uma parte de menos de 1% da população que odeia e explora os 99% que são explorados por ela. Estes 1% que controlam a tudo e a todos desde quando nascemos até a nossa morte e depois dela. Que controlam os meios de produção, a televisão, a revista, o livro, o rádio, o jornal, a internet e todo meio de comunicação existente. Que controla cada segundo da sua vida.
Os milionários e bilionários me ensinaram a odiar e amar coisas que lhes interessam.
Cabe a cada um morrer envenenado ou livrar-se do veneno.
Livrar-se do veneno de décadas a fio não é fácil e tem efeitos colaterais graves.
Mas o único meio de ser livre e amar verdadeiramente é fazendo escolhas diferentes do que lhe ensinaram a vida toda.