quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O PT e o fim da história

Francis Fukuyama revigorou a ideia de Hegel ao imaginar o fim da história, colocando, a partir da queda do muro de Berlim em 1989, a democracia ocidental burguesa representada pelo capitalismo como vitoriosa sobre o socialismo, elevando a humanidade a um patamar de estabilidade jamais visto na história.

Ideólogo do capitalismo na versão neoliberal da era Margaret Thatcher e Ronald Reagan, em menos de uma década, Fukuyama revelou-se um impostor. Nas diversas revoluções no planeta e a insistência da existência de países socialistas, e depois com o retorno dos estudos como nunca de obras marxistas e o terremoto financeiro de 2008 que até agora sacoleja a Europa e os Estados Unidos com sua crise que perdura até hoje, provaram que Fukuyama era uma fraude. E que fraude!A paz mundial, sem rebeldia, sem passeatas, sem greves, sem ocupações, deveria ter chegado e todos deveriam dormir sossegados, a luta de classes teria findado e o paraíso na terra seria desfrutado por todos.

A década de 2000 provou, no mundo inteiro, que não era bem assim. O mundo não se estabilizou. Pelo contrário, virou um furacão sem fim. A imprensa capitalista no planeta vomitava que a esquerda e direita era coisa de museu.

Ao contrário, no planeta acirrou-se a luta de classes, revoluções populares varreram dezenas de países, atentados aos montes e, os Estados Unidos, ao contrário do que Francis pregava, está em plena crise e próximo de perder o posto para a China em vários indicadores capitalistas.

Com a ascensão de vários governos capitalistas de frente popular na América do Latina, como na Venezuela, Bolívia e Equador, os defensores do capitalismo mudaram o conceito de democracia. Só vale se o vencedor for defensor do capitalismo sem reformas que beneficiem os trabalhadores. Na “nova” ótica do capitalismo só vale se o vencedor for um governo capitalista sem reformas estruturantes.

Sabemos que os governos citados não são e nunca foram socialistas. São governos capitalistas de frente popular e que realizaram reformas que beneficiaram parte dos trabalhadores, mas que ao mesmo tempo reprimem os trabalhadores e mantém o capitalismo intacto.

Já no Brasil o governo capitalista de frente popular do PT e seus aliados como o PMDB, PC do B, PR e tantos outros, jamais realizou reformas estruturantes pró-trabalhadores. A privatização foi aprofundada nos governos Lula e Dilma, a repressão contra os trabalhadores aumentou, metade do orçamento federal vai para os banqueiros para pagar a dívida pública, a saúde é uma catástrofe, o analfabetismo continua altíssimo, não se avançou para as 36 ou 40 horas de jornada de trabalho semanal, os 56 direitos que o DIEESE apontou lá atrás que Fernando Henrique do PSDB retirou, nenhum foi devolvido, vários direitos dos trabalhadores foram retirados na era petista. A Vale e todas as privatizações das telecomunicações, das siderurgias, da energia elétrica, nenhuma foi revogada.

O governo capitalista do PT e aliados se mantém com uma fórmula quase invencível. Trouxe o deputado do PSDB para administrar o Banco Central para os banqueiros. Trouxe o dono da Sadia para administrar para os latifundiários e aprofundou a rede de assistência social da época de Fernando Henrique do PSDB, mantendo amortecida a camada social mais pobre.

Nos onze anos da era PT e aliados, os milionários ficaram mais milionários. Hoje o PT recebe mais dinheiro nas eleições do que o PSDB, dinheiro este que vem dos banqueiros, latifundiários e construtoras.

Portanto, a diferença entre o PT e o PSDB, é que o PT administra melhor o capitalismo que o PSDB.


E neste cenário onde estão os defensores do socialismo na era PT?

Para enfrentar a questão é necessário dizer que o PT já na década de 1980, logo após os cinco primeiros anos de nascimento, já havia abandonado qualquer ligação com o socialismo. Ali, na década de 1980, e principalmente após as eleições presidenciais de 1989, quando Lula perde para Collor, o PT abraça o capitalismo para chegar ao poder, consolidando-se como uma alternativa para o capital, e fechando o contrato com o capital através da “Carta ao Povo Brasileiro” na campanha de 2002.

Na “Carta”, o PT garante ao capital todos os privilégios, as garantias de contrato, a garantia do pagamento da dívida pública. Em seguida, sela o contrato com o oferecimento do cargo de vice-presidente para um dos homens mais ricos do Brasil.

Portanto, quando o PT chega ao poder, assumindo o governo federal em 2003, num governo capitalista de frente popular, nada tinha mais dos anos iniciais de sua construção.

E a fórmula de se manter no poder através de uma rede de assistência social, mantendo os miseráveis na pobreza e mantendo os milionários mais milionários e as vezes bilionários tem dado certo. Recebe o dinheiro dos milionários na campanha, mantendo o capitalismo intacto, sem terremotos.

Mas para se chegar a esta estabilidade desejada foi necessário manter as instituições que sempre estiveram junto com o PT num mundo sem rupturas, sem ocupações e sem traumas. Para isto a UNE, a CUT, CTB e outras centrais sindicais governistas e o MST cumpriram e cumprem um papel fundamental: dar sustentabilidade ao governo capitalista do PT e evitar instabilidade.

Todos, agora, apontam que ser patriota é não criticar o governo capitalista petista e defender o desenvolvimento a qualquer custo.


Mas, e os socialistas?

Dentro do PT ainda tem reminiscências do socialismo, que talvez chegue a 0,5% do total de políticos organizados dentro do PT, tão importante como o órgão chamado apêndice. Portanto, podemos, sem nenhum exagero, dizer que o PT é absolutamente capitalista, pois os 0,5% de socialistas não têm o mínimo espaço dentro da administração do PT.

Quanto ao PC do B há muitos anos deixou de ser socialista. Hoje é sustentação do governo capitalista petista, ajudando no código de desflorestamento e colaborando com uma das maiores empresas capitalistas do mundo: a Fifa.

Resumindo, a era petista no governo federal é uma era absolutamente de defesa e gerenciamento do capitalismo.

Os socialistas neste período sempre criticaram a postura do PT e seus aliados. Reivindicam reformas estruturantes, que nunca aconteceram nos governos petistas. A reforma agrária virou uma piada na era petista. O mundo das bolsas nunca esteve tão em alta: tanto dos pobres como das madames milionárias, enquanto a Classe Trabalhadora é oprimida nas ruas, nas fábricas e no Serviço Público.

Na era petista as greves e as manifestações de ruas foram combatidas e criminalizadas enquanto que o Brasil na era petista teve a maior cotação dos capitalistas do planeta colocando Lula como “O Cara” por Obama e Lula colocou que o ídolo dele era os usineiros. Na era petista o capital aplaudiu de pé o Brasil: o risco-país, que é medido pelas agências capitalistas Moody´s, Standard & Poor´s e Fitch Ratings, despencou como nunca, ou seja, a confiança do capital nos governos petistas é absoluta e muito maior que na era de Fernando Henrique Cardoso do PSDB.

Os socialistas criticaram e criticam tudo isto. E denunciam, dia após dia, todas as truculências contra a classe trabalhadora na era petista.


E o fim da história?

Para os defensores do governo capitalista petista qualquer um que criticar o governo é considerado de direita. Sem entrar no conceito de esquerda, centro ou direita, basta separar em defensores do capitalismo ou do socialismo. Para os defensores do governo capitalista petista qualquer um que defenda o governo petista é de direita e quem o defende é de esquerda.

Por este critério, José Maria do PSTU, Rui Pimenta do PCO e Mauro Iasi do PCB são de direita porque criticam o governo capitalista do PT.

Por este critério, Maluf, José Sarney, Collor, Renan Calheiros, Blairo Maggi, Roseana Sarney, Kátia Abreu, Mário Henrique Simonsen são de esquerda porque apoiam o governo capitalista do PT.

Para os defensores do governo capitalista petista chegamos ao jardim do éden: o fim da história. Após a chegada do PT ao poder a classe trabalhadora chegou ao paraíso. Quem vai para as ruas é contra o governo, quem critica a copa da Fifa é contra o governo, sindicalista que critica o governo pratica crime hediondo. Na era do governo capitalista do PT é proibido criticar. Só vale se criticar o também capitalista PSDB.

O PT perdeu a vergonha faz tempo.

Mas assim como ocorreu com a fraude chamada Fukuyama, o PT, ao longo do tempo, também será desmascarado.

A classe trabalhadora manda avisar que história não acabou.


Pedro Aparecido de Souza


15.01.2014





2 comentários:

  1. Sendo assim, e concordo, o PT não é socialista, porquê ele é visto desta forma por grandes extratos sociais , e, principalmente, porquê o PT é odiado pela grande mídia, que, fato, persegue o PT, sim.

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  2. Boa análise, Pedro. Assim como, em geral, os atuais adultos de meia idade - entre os seus 40 a 50 anos - exercem hoje, sobre seus filhos, todos os valores politicamente alienados e autoritários que lhes foram impostos nos 20 anos de chumbo, os jovenzinhos de hoje estão, do mesmo jeito, se "preparando" cuidadosamente para, daqui a alguns anos, repassarem a mesma alienação política - no meu ponto de vista, muito mais agravada - que essa era do neopetismo está deixando como "legado" para as futuras gerações. O PT entrará para a história do país (e até mesmo do mundo) como, um dos maiores exemplos de traição política já ocorridos. A história o condenará.

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