domingo, 4 de janeiro de 2015

Você sabe como dormem os pais de autistas em hotel? As fugas.


Um dos inúmeros desafios para os pais de autistas é se hospedar em em hotel.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem vários níveis e cada pessoa é diferente da outra.

No caso do meu filho André, ele não se comunica pela fala e sim, pelo teclado do celular. E sai sem dar avisos. Em outras palavras: coloca todo mundo em desespero de vez em quando.

E a segurança de uma pessoa autista vem em primeiro lugar.

A hospedagem em hotel é complicada. Tem que ir conhecer o hotel com antecipação, ver se é seguro (sacada nem pensar), porta do hotel direto para a rua nunca, e assim por diante.

Se tiver compulsão por comida (caso do André) não pode ter alimentos à vista.

Na verdade hospedar em um hotel termina sendo uma operação de guerra.

E na hora de dormir? Além dos gritos antes de dormir que, as vezes, acabam incomodando outros hóspedes, tem um problema: os quartos não tem chave interna.

E como fazer se a pessoa autista acorda e vai embora sem avisar ninguém?

A solução é a da foto: um dos pais dorme com o colchão no chão com os pés grudados na porta. Se o filho tentar abrir a porta você será acordado. Fazemos isto desde que o André nasceu e lá se vão 14 anos.

Afinal por que tanta precaução? Porque o André já fugiu seis vezes. Em casa tem 4 cadeados normais e tetras e todos com cadeados adicionais de segredo numérico. As chaves ele acaba encontrando, já os cadeados de segredo conseguem impedir a fuga.

A última fuga ocorreu no último dia de 2014, no dia 31. Estávamos passeando em Jacarezinho - PR, na casa da minha  irmã. Num minuto ele colocou uma cadeira e pulou o muro com grades e tudo.

Precisei ligar para a polícia para encontrá-lo, e mais um sobrinho percorrendo a cidade de moto e eu de táxi.

Meu sobrinho acabou encontrando ele num bar, comendo balinhas, doces e chocolates. Tenso.

Nosso último dia do ano foi assim.

Coisas corriqueiras para os outros, para nós, pais de autistas, acabam sendo operacões especiais de guerra.

04 de janeiro de 2015

Blog do Pedro Aparecido 

www.pedroaparecido.com.br


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