sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Luz e trevas nos centros de compras e no judiciário



Os rolezinhos entraram para a história das Manifestações no Brasil. Disto ninguém duvida.
Hoje, 31.01.2014, acontecerá o rolezinho no centro de compras Goiabeiras, marcado pela rede social Facebook, às 17 horas, em Cuiabá.
Em Cuiabá, quatro fatos chamaram atenção na questão dos rolezinhos.


Primeiro, o centro de compras Pantanal entrou com pedido de liminar contra o rolezinho que seria realizado lá. Já se sabia por antecipação que seria realizado no Goiabeiras e não no Pantanal. A petição com matizes preconceituosas e covardes solicitava o impedimento de que pessoas do rolezinho entrassem no centro de compras Pantanal e solicitou inclusive multa.
Segundo fato. O juiz Yale Sabo Mendes indeferiu a liminar afirmando que o direito de ir e vir, a liberdade de expressão não poderiam ser suprimidos e o rolezinho não poderia ser proibido, colocando até ênfase na separação que existe entre as classes sociais no Brasil, colocando como verdadeiro "Apartheid" brasileiro.
Terceiro fato. A desembargadora do TJ Clarisse Claudino aceitou a liminar contra o rolezinho e derrubou a decisão de primeira instância, invocando o direito de propriedade. Invocou até o direito ao trabalho. Neste particular,  os desempregados  poderão entrar com ação requerendo direito ao trabalho para todos os desempregrados. Está dada a dica.
Quarto fato. O centro de compras Goiabeiras, mesmo tendo a certeza que ganharia no judiciário uma liminar impedindo o rolezinho, pois o Pantanal já ganhara, resolveu não entrar com ação no judiciário e, indo ao outro extremo, garantiu a realização do rolezinho, aumentando a segurança dentro do centro de compras.
Sobre o mérito do rolezinho, em relação ao desejo de consumo, é mais uma armadilha do sistema consumista, da tv e de tudo que está aí. Pagar uma fortuna numa bolsa, numa camisa é um absurdo. Absurdo maior ainda é quando os pais não podem pagar e passam necessidade para realizar o sonho consumista dos filhos.
Outra coisa é defender o direito destes meninos e meninas que querem ir nos centros de compras em multidão. Há que se garantir este direito. Durante muitas décadas os filhinhos de papai que estudavam direito iam em revoadas aos bares e não pagavam a conta no dia do advogado, dando prejuízos enormes para os comerciantes. Até hoje acontece. E nenhuma liminar houve. Esta é a diferença. 
Os quatro fatos nos remetem a dois momentos: um da luz, outro das trevas, e independem das razões que determinaram os atos.
Quando o Pantanal recorreu ao judiciário (direito dele) retrocedeu aos tempos das trevas ao solicitar e impedir a entrada das pessoas baseadas em suposições (leia-se: tipo de pessoa, com predominância da periferia e assim por diante).
A decisão do Yale colocou luz onde havia trevas. Decisão impecável sobre todos os ângulos. Garantiu a liberdade de expressão e impediu que uma parte da sociedade mais abastada humilhasse outra parte da sociedade.
Já a decisão da Clarisse apagou a luz e jogou trevas novamente na questão. Invocar o direito de propriedade, o direito ao trabalho foi de uma superficialidade sem tamanho.
Por último a posição tomada pelo Goiabeiras de não ir ao judiciário e abrir os portões para os membros do rolezinho trouxe novamente luz. E novamente reafirmo: não interessa os interesses que originaram os quatro fatos. O que interessa são os fatos. No último caso, o Goiabeiras quer limpar o seu passado, pois a segurança do próprio centro de compras assassinou uma pessoa que estava passeando dentro do centro de compras, jogando o corpo dentro de um recolhedor de entulhos (contâiner). Além do mais, fatura, se posando de empresa que está antenada com o seu tempo, além de garantir uma faturamento maior no rolezinho com a presença de dezenas a mais de pessoas (e realmente eles compram muito, pois as pesquisas indicam isto).
Não. Não estou aqui a analisar as causas das tomadas de decisões. Somente as decisões.
E nas quatro decisões, mostra-se claramente, o atraso numa parte da sociedade preconceituosa, de apartação, de discriminação, que tem medo de pobre, que tem medo de contato com outro setor da sociedade que não o dele. Do outro lado temos uma parte da sociedade que que ir para frente, que quer iluminar, mesmo num caminho difícil, que quer diálogo, que não quer criminilalizar protestos, que não quer aplicar penas de terrorismo de 30 anos para quem protestar contra a Copa de 2014, que quer discutir, que quer abrir portas e janelas e não fechá-las.
Mais luz, por favor!
Pedro Aparecido de Souza
31.01.2014





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